
Entendo que Lamachia está em campanha para
a presidência do conselho federal da OAB, então uma certa retórica lhe é
permitida, o bom e velho “jogar para a torcida” é normal em épocas de campanha,
mas contrariar fundamentos básicos de filosofia é inaceitável.
Não se pode contestar a decisão da
magistrada nos termos propostos por Lamachia, que desvia a atenção do debate, e
cria um clima de vitimização que não ajuda em nada a relação entre advogados e
magistrados, que, ao contrário do que parece é a melhor possível.
Dworkin na obra "A virtude soberana" (Trad. de Jussara Simões. São
Paulo: Martins Fontes: 2005), sob o título de “igualdade de
recursos”, desenvolve teoria que tem como fundamento primário que
os seres humanos são responsáveis pelas escolhas de vida que fazem, essa é a
premissa básica da liberdade, então quem escolhe ser magistrado escolhe a remuneração fixa,
escolhe a vitaliciedade, mas abre mão da possibilidade de riqueza (não que espera-se que qualquer magistrado faça votos de pobreza, mas como eu sempre digo com meus alunos, eu jamais serei proprietário de uma Ferrari ou de um jatinho e se eles sonham com isso a advocacia é a profissão para realiza-lo), abre mão
da liberdade tendo em vistas que as restrições que a Lei Orgânica e o Código deética da Magistratura lhe impõe a
condição de zelar pelos deveres 24 horas por dia, já quem escolhe a advocacia
escolhe a liberdade (o advogado deve ser o homem mais livre de todos), escolhe
a possibilidade de rendas acima dos limites estreitos do subsídio, mas as
escolhas não são imunes de ônus caro candidato, não transforme a escolha de
vida de seus colegas ( que foi a minha de 1998 até 2005 - sob as inscrições OAB 20E887 e OAB 49844) em algo menor, eles são seres livres que escolheram uma
profissão que exige coragem para enfrentar autoridades e lembre-se que vários
de seus colegas enfrentaram ditaduras cruéis, com nada mais que isso, coragem, ou
teria Sobral Pinto se preocupado com a conta do telefone ao defender o uso dos
direitos dos animais em favor de Prestes? A liberdade é fazer escolhas e feitas
é preciso assumir o seu ônus, então não os transforme em vítimas e os
magistrados em vilões.
Advogados e juízes fizeram as suas
escolhas de vida, exerceram a sua liberdade, respeite-as e não as use como argumento
para justificar a modificação de um entendimento jurídico que, certo ou
equivocado, estará submetido ao crivo dos Tribunais, mas que, de longe não é
revanche.
A campanha não vale isso.
Novamente, menos retórica e mais
filosofia do direito é isso que o debate (e não embate como tentam alguns)
precisa.
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