sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre a desumanização: Morador de rua é pichado enquanto dormia na Capital

Vanderlei Pires também foi vítima de um jovem que teria urinado sobre seus pés

Atualizada às 11h15min
José Luis Costa | joseluis.costa@zerohora.com.br 
O morador de rua Vanderlei Pires, 35 anos, foi pichado com tinta prata enquanto dormia na esquina da Rua Lobo da Costa com a Avenida João Pessoa, na Capital, na madrugada desta sexta-feira. Além disso, segundo uma mulher que esperava em um ponto de ônibus próximo ao local, jovens em um carro teriam parado na esquina e urinado sobre os pés do homem.

A dona de casa Ana Cecília Freitas, 36 anos, estava na parada de ônibus da Avenida João Pessoa quando viu um carro branco, na Rua Lobo da Costa, parar no meio da rua. O motorista, branco, aparentando 25 anos e somente de bermuda, desceu do veículo, caminhou em direção ao mendigo e urinou nos pés do homem que dormia na calçada, em frente ao Ambulatório de Dermatologia Sanitária.
Naquele momento, Vanderlei já estava com o rosto e o corpo todo pintado com tinta spray na cor prata. Com sinais visíveis de embriaguez e rindo para um rapaz que estava dentro do carro, o homem voltou para o veículo e seguiu pela mesma rua em direção ao bairro Cidade Baixa.

Indignada com a cena, Ana Cecília anotou a placa do veículo num pedaço de papel e se apresentou como testemunha do caso que será investigado pela 10ª Delegacia da Polícia Civil da Capital.

— Muitas pessoas estavam na parada naquele momento e não tomaram nenhuma atitude. Isso é um fato revoltante — desabafou Ana Cecília.

Pires, que não percebeu as agressões enquanto dormia, foi removido até o posto da Brigada Militar (BM) localizado no Parque da Redenção para registrar a ocorrência. Depois, encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro e ao Departamento Médico Legal.
ZERO HORA



Do Blog: O que mais me chama atenção em uma situação dessas não é nem o aspecto criminal, mas sim a crescente idéia de desumanização que cresce em nossa sociedade. O responsável por este ato de barbárie sequer pensou que cometia crime, provavelmente, sequer pensou que fazia algo errado pois cada vez mais nós, isso mesmo nós, sociedade vemos, ou melhor , não vemos, as classes marginalizadas como pessoas, são como fantasmas que passam pelos semáforos, dormem nas calçadas, apodrecem em presídios.

Não são nem mesmo nossos "inimigos" em um eventual conflito de classes como poderia referir Marx , não são inimigos pois estes existem, nos trazem medo, a verdade é que cada vez mais nós ignoramos os marginalizados, os "pintamos" como cores de parias, fracassados dos sistema capitalista competitivo, dai, de pinturas simbólicas, estávamos a um passo de pintar efetivamente, mas o pior é que mesmo pintados de cortes brilhantes, ainda assim não serão vistos. É como este é o panorama que invade a cultura ocidental, hoje, vale citar trecho da obra "Direito Penal do Inimigo", de GHÜNTER JACKOBS:Quem não presta uma segurança cognitiva suficiente de um comportamento pessoal, não só não pode esperar ser tratado ainda como pessoa, mas o Estado não ´deve´ tratá-lo, como pessoa, já que do contrário vulneraria o direito à segurança das demais pessoas( GÜNTHER JACKOBS, Direito Penal do Inimigo p. 42.).

O meu medo é,como diz COUTINHO, "não deixar morrer a esperança, tão cara à modernidade, por aquilo que sempre foi ter que conquistar: a exclusão social está começando a ganhar a marca da realidade revoltada (justamente pela perda dela, a esperança)" [COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. "O gozo pela punição (em face de um estado sem recursos)". COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; MORAIS, Jose Luis Bolzan de; STRECK, Lênio Luiz (org.). Estudos Constitucionais. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, p. 150].




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