Excelentíssima Professora Sílvia Araújo, Magnifica Reitora da Unifoz;
Senhor Professor Luiz Francisco Barleta Marchioratto, Diretor-Acadêmico da nossa UNIFOZ,
Professora Jamila Gomes, Coordenadora do Curso de Direito.
Meus colegas professores da família UNIFOZ,
Senhores pais, mães, familiares, amigos e amigas de nossos formandos,
Minhas queridas afilhadas e meus queridos afilhados,
A primeira palavra é de agradecimento,
AGRADEÇO imensamente pelo convite, pela lembrança e pelo reconhecimento de que, de alguma forma, marquei positivamente vocês que decidiram me escolher como padrinho desse momento tão importante de suas vidas.
Mas, mais ainda, agradeço a essa turma que meu deu a oportunidade de ser TAMBÉM paraninfo da pessoa que mudou a minha vida, meu sol e estrelas, que é a minha companheira todos os dias, de todas as horas, aquela que é uma verdadeira benção na minha vida, a minha esposa Ana Paula Bello Cunha, eu já sou feliz de ter acompanhado todo o esforço dela, mas estar aqui, como paraninfo dessa turma é uma emoção especial que eu não poderia deixar de comentar.
Mas ser paraninfo é, ao mesmo tempo, uma honra e um desafio, especialmente depois do discurso emocionante que o meu Amigo Maurício Machado fez como paraninfo da última turma de direito da UNIFOZ, mas como a vida só tem graça quando somos desafiados, vou tentar não fazer feio, e para isso vou tentar a velha fórmula de “Falar alto para ser ouvido, claro para ser entendido e rápido para ser aplaudido”.
Eu poderia vir aqui e fazer um longo e erudito discurso sobre os fundamentos epistemológicos do direito, mas não, farei e falarei como sempre falei com vocês em sala de aula, como amigo que podem guardar para toda a vida, não falarei de valores jurídicos, não falarei da importância da dignidade humana na jurisprudência do Bundesverfassungsgericht, como várias vezes falei em aula, até mesmo para evitar os conhecidos olhos revirados que muitas vezes vi em sala de aula, vou falar de algo muito mais importante, a paixão pelo direito.
E começo dizendo, meus queridos afilhados e afilhadas, NÃO TENHAM PAIXÃO PELO DIREITO, isso, isso mesmo, NÃO SEJAM APAIXONADOS PELO DIREITO, pois o que o mundo precisa não é de pessoas que tenham paixão acalorada, que tenham paixão furiosa pelo direito e por tudo o que ele representa, o mundo precisa que vocês amem o direito.
Paixão não é amor, paixão e amor são muito diferentes.
1 - Paixão destrói, Amor constrói
A paixão te cega. A paixão vai fazer com que vocês se tornem profissionais agressivos, apegados demais ao sentimento de estar certos, de terem razão, mesmo que para isso tenham de ignorar que no direito, sempre temos dois lados, quem ama o direito não destroí quem está do outro lado, constrói pontes, amizades, respeito mútuo, só o amor pode construir uma carreira.
2 - Paixão vai e volta, mas Amor fica
Quem nunca disse “eu não quero mais pisar nessa faculdade”? O apaixonado pelo direito vai dizer isso várias vezes, vai dizer “não aguento mais esse trabalho” e depois essa raiva toda passa por um tempo e daqui a poucos dias lá está você dizendo ““não aguento mais esse trabalho” de novo. Quem ama o direito não tem crises de identidade, não se sente inferior ou superior, quem ama o direito, sai todos os dias para trabalhar com o mesmo sorriso bobo de felicidade que vocês estão ai agora e eu conheço esse sorriso, pois o vejo todos os dias no meu espelho, sentados, quem ama o direito de verdade sabe que a felicidade está nas pequenas emoções que ele, como profissão de fé, pode nos trazer, está no sorriso do cliente que foi libertado, no obrigado da pessoa que foi atendida no balcão, na felicidade da parte ao receber a sentença que lhe foi favorável, é com amor ao direito que entenderão que não há funções mais importante ou menos importantes, todos somos essenciais para melhorar a vida das pessoas, quem ama o direito não tem juizite, promotorite, advogazite e todos esses zites que todos odiamos.
3 - Paixão precisa de empolgação permanente, e Amor só precisa de princípios e habilidades
Para que a Paixão exista, você só precisa de empolgação, você sente a emoção correndo nas suas veias, você sente aquele calor no rosto quando está na fila e alguém fala algo ruim da sua carreira.
Mas para o Amor existir, é necessário princípios e habilidades, como respeito, honestidade, comunicação, empatia.
E esses princípios devem ser o seu norte, a sua estrela guia, quem é guiado pela paixão acorda no meio do caminho sem saber muito bem onde está, mas quem se guia pelo por princípios como honestidade, ética, respeito, empatia e humildade sempre sabe o caminho certo, pode demorar mais, pode até fazer um caminho mais árduo, mas chega ao seu destino e chega de cabeça erguida, sabendo que pode ter sacrificado muito para chegar ali, mas que não sacrificou nenhum dos seus valores.
4- A Paixão é imediata, Amor leva tempo
A paixão pelo direito é imediata, mas também, como ser diferente, nosso curso realmente apaixona, durante toda a faculdade somos levados ao debate sobre os problemas da humanidade, não é à toa que nos últimos anos as grandes questões nacionais vem sendo decididas pelos tribunais e não pelo legislativo, como não se apaixonar pelas vestes talares, pela história dos grandes juristas?
Mas a verdade é que hoje vocês concluem um ciclo, muitos iniciam uma longa jornada até a carreira dos sonhos, para esses, só a paixão não será suficiente, as longas horas de estudo, a repetição até saber a diferença entre tutela provisória de urgência e tutela provisória de evidência, as reprovações, sim, as reprovações virão, as derrotas, as perdas, e a paixão vai esmaecendo com elas, mas quando desenvolvemos amor pelo direito, não sofremos com esses reveses, aprendemos com ele, pois quem ama, sabe que o amor demora tempo, que o amor não é instantâneo, vocês saberão o que é o amor ao direito de forma súbita, mas acreditem meus afilhados, de forma inconfundível.
5- A Paixão faz você querer se exibir, Amor ignora a opinião das pessoas
A Paixão faz com que você procure aprovação e validação dos outros, por isso o apaixonado não consegue se desligar daquilo que ele faz, o “juiz” o “advogado” o “delegado” estão antes do Felipe, da Tatiane, da Ana do Gilberto, no amor ao direito aprendemos que a opinião dos outros sobre nós, ou sobre o que nós fazemos com o direito não importa, pois o amor é aceitação, só quem ama o direito descobre que você é feliz por estar vivendo o direito independente da carreira que esteja.
Acreditem, eu conheço pessoas que são juízes, promotores, advogados que são infelizes, tristes e vivem em sofrimento, enquanto conheço pessoas que exercem atividades vistas como não tão glamorosas no direito e que tem um brilho no olhar, uma felicidade no que fazem que enchem qualquer coração de orgulho.
Lembrem de uma coisa, quem ama o direito, não precisa da aprovação de ninguém, a mor liberto, jamais prende
6 - Paixão é baseada em perfeição, e o Amor é baseado em aceitação
Paixão faz você achar que o direito, e a relação de vocês com ele, é a coisa mais perfeita do mundo, o apaixonado não percebe que o direito existe para melhorar a vida das pessoas, para, como está escrito na Declaração de Independência dos Estados garantir que é uma verdade evidente “ que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade” o apaixonado, acha que o direito é perfeito e acabado e ignora que ele não consegue isso e que cabe a nós, aplicadores do direito fazer essa mudança, cabe a nós sermos as vozes firmes e sonoras a condenar o estado atual de coisas.
No Amor, você aceita os defeitos do direito, mas é esse amor que faz com que você diga com todas as letras, “eu amo o direito, mas não esse direito que está aí, que ignora a realidade do povo, que permite que a violência, o medo e a impunidade retirem do povo brasileiro seu legítimo direito de perseguir a felicidade e obter o livre desenvolvimento de sua personalidade, por isso eu quero ser esse instrumento de mudança.”
Acreditem, a frase do Padre Marcelo de "Quem ama o que faz estará sempre fazendo o que ama" reflete uma verdade absoluta, por isso eu encerro a minha fala os convocando para que, como eu, amem o direito, não tenham medo de dizer “eu amo a vida que eu escolhi para mim”, e eu garanto que daqui a vinte anos, quando for a vez de vocês subirem no púlpito para discursar seus afilhados poderão dizer “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé."
Boa noite e parabéns.
Professor Rogerio de Vidal Cunha
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